terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Tema polêmico!

Interessantíssimo o tema, pessoal! 

Afinal, a gramática deve ser seguida "a ferro e fogo" como o autor Napoleão Mendes de Almeida (Dicionário de Questões Vernáculas) ou observar a língua como poderosa ferramenta de dominação, como cita Marcos Bagno (Preconceito Linguístico - o que é, como se faz)?





Recomendo a leitura de ambos para ampliar a questão do ensino de gramática!

Boas leituras! :)

* Para quem se interessa, há o download do livro de Marcos Bagno: http://www.4shared.com/office/V3nZlfvs/Livro_preconceito_Linguistico.html




Carnaval...

Após o Carnaval...




... um belo texto da Clarice Lispector...


"Não, não deste último carnaval. Mas não sei por que este me transportou para a minha infância e para as quartasfeiras de cinzas nas ruas mortas onde esvoaçavam despojos de serpentina e confete. Uma ou outra beata com um véu cobrindo a cabeça ia à igreja, atravessando a rua tão extremamente vazia que se segue ao carnaval. Até que viesse o outro ano. E quando a festa ia se aproximando, como explicar a agitação íntima que me tomava? Como se enfim o mundo se abrisse de botão que era em grande rosa escarlate. Como se as ruas e praças do Recife enfim explicassem para que tinham sido feitas. Como se vozes humanas enfim cantassem a capacidade de prazer que era secreta em mim. Carnaval era meu, meu.

No entanto, na realidade, eu dele pouco participava. Nunca tinha ido a um baile infantil, nunca me haviam fantasiado. Em compensação deixavam-me ficar até umas 11 horas da noite à porta do pé de escada do sobrado onde morávamos, olhando ávida os outros se divertirem. Duas coisas preciosas eu ganhava então e economizava-as com avareza para durarem os três dias: um lança-perfume e um saco de confete. Ah, está se tornando difícil escrever. Porque sinto como ficarei de coração escuro ao constatar que, mesmo me agregando tão pouco à alegria, eu era de tal modo sedenta que um quase nada já me tornava uma menina feliz.

E as máscaras? Eu tinha medo, mas era um medo vital e necessário porque vinha de encontro à minha mais profunda suspeita de que o rosto humano também fosse uma espécie de máscara. À porta do meu pé de escada, se um mascarado falava comigo, eu de súbito entrava no contato indispensável com o meu mundo interior, que não era feito só de duendes e príncipes encantados, mas de pessoas com o seu mistério. Até meu susto com os mascarados, pois, era essencial para mim.




Não me fantasiavam: no meio das preocupações com minha mãe doente, ninguém em casa tinha cabeça para carnaval de criança. Mas eu pedia a uma de minhas irmãs para enrolar aqueles meus cabelos lisos que me causavam tanto desgosto e tinha então a vaidade de possuir cabelos frisados pelo menos durante três dias por ano. Nesses três dias, ainda, minha irmã acedia ao meu sonho intenso de ser uma moça – eu mal podia esperar pela saída de uma infância vulnerável – e pintava minha boca de batom bem forte, passando também ruge nas minhas faces. Então eu me sentia bonita e feminina, eu escapava da meninice.

Mas houve um carnaval diferente dos outros. Tão milagroso que eu não conseguia acreditar que tanto me fosse dado, eu, que já aprendera a pedir pouco. É que a mãe de uma amiga minha resolvera fantasiar a filha e o nome da fantasia era no figurino Rosa. Para isso comprara folhas e folhas de papel crepom cor-de-rosa, com as quais, suponho, pretendia imitar as pétalas de uma flor. Boquiaberta, eu assistia pouco a pouco à fantasia tomando forma e se criando. Embora de pétalas o papel crepom nem de longe lembrasse, eu pensava seriamente que era uma das fantasias mais belas que jamais vira. 

Foi quando aconteceu, por simples acaso, o inesperado: sobrou papel crepom, e muito. E a mãe de minha amiga – talvez atendendo a meu apelo mudo, ao meu mudo desespero de inveja, ou talvez por pura bondade, já que sobrara papel – resolveu fazer para mim também uma fantasia de rosa com o que restara de material. Naquele carnaval, pois, pela primeira vez na vida eu teria o que sempre quisera: ia ser outra que não eu mesma.

Até os preparativos já me deixavam tonta de felicidade. Nunca me sentira tão ocupada: minuciosamente, minha amiga e eu calculávamos tudo, embaixo da fantasia usaríamos combinação, pois se chovesse e a fantasia se derretesse pelo menos estaríamos de algum modo vestidas – à ideia de uma chuva que de repente nos deixasse, nos
nossos pudores femininos de oito anos, de combinação na rua, morríamos previamente de vergonha – mas ah! Deus nos ajudaria! não choveria! Quanto ao fato de minha fantasia só existir por causa das sobras de outra, engoli com alguma dor meu orgulho, que sempre fora feroz, e aceitei humilde o que o destino me dava de esmola.

Mas por que exatamente aquele carnaval, o único de fantasia, teve que ser tão melancólico? De manhã cedo no domingo eu já estava de cabelos enrolados para que até de tarde o frisado pegasse bem. Mas os minutos não passavam, de tanta ansiedade. Enfim, enfim! Chegaram três horas da tarde: com cuidado para não rasgar o papel, eu me vesti de rosa.

Muitas coisas que me aconteceram tão piores que estas, eu já perdoei. No entanto essa não posso sequer entender agora: o jogo de dados de um destino é irracional? É impiedoso. Quando eu estava vestida de papel crepom todo armado, ainda com os cabelos enrolados e ainda sem batom e ruge – minha mãe de súbito piorou muito de saúde, um alvoroço repentino se criou em casa e mandaram-me comprar depressa um remédio na farmácia. Fui correndo vestida de rosa – mas o rosto ainda nu não tinha a máscara de moça que cobriria minha tão exposta vida infantil – fui correndo, correndo, perplexa, atônita, entre serpentinas, confetes e gritos de carnaval. A alegria dos outros me espantava.

Quando horas depois a atmosfera em casa acalmou-se, minha irmã me penteou e pintou-me. Mas alguma coisa tinha morrido em mim. E, como nas histórias que eu havia lido sobre fadas que encantavam e desencantavam pessoas, eu fora desencantada; não era mais uma rosa, era de novo uma simples menina. Desci até a rua e ali de pé eu não era uma flor, era um palhaço pensativo de lábios encarnados. Na minha fome de sentir êxtase, às vezes começava a ficar alegre mas com remorso lembrava-me do estado grave de minha mãe e de novo eu morria.

Só horas depois é que veio a salvação. E se depressa agarrei-me a ela é porque tanto precisava me salvar. Um menino de uns 12 anos, o que para mim significava um rapaz, esse menino muito bonito parou diante de mim e, numa mistura de carinho, grossura, brincadeira e sensualidade, cobriu meus cabelos, já lisos, de confete: por um instante ficamos nos defrontando, sorrindo, sem falar. E eu então, mulherzinha de 8 anos, considerei pelo resto da noite que enfim alguém me havia reconhecido: eu era, sim, uma rosa.


Conto publicado no livro Felicidade Clandestina, Ed. Rocco


... para alegrar o coração e começarmos o ano bem!

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Leituras e Releituras - A Arte e a nossa língua Materna.

Vamos mudar um pouco o rumo de nossas postagens... Vamos respirar um pouco de Arte... Arte? Mas, a Arte tem relação com a Língua Portuguesa?


Sim, meu caro! A Arte tem relação com a nossa língua! Afinal, ela é uma espécie de linguagem que expressa uma visão de mundo,  que transforma várias culturas e interpreta a realidade! Muitos são os conceitos sobre como é a linguagem artística que você pode encontrar pelo mundo virtual e real: as teorias estão aí para serem analisadas, interpretadas e discutidas! É assim que o conhecimento cada vez mais se alastra e novas visões de mundo são criadas e desenvolvidas!

Porém, você deve estar se perguntando e a Língua Portuguesa???? A nossa língua serve como ferramenta para as possíveis leituras e releituras da linguagem artística! É através dela que você poderá ampliar seu mundo cultural e ver o mundo com novos olhos! E, enxergar com novos olhos, é poder expressar-se melhor, ter um discurso com argumentos mais sólidos em qualquer área que você se dedique! Entendeu o porquê da importância da Arte e de sua língua materna? Para ser um bom profissional, você precisa enxergar além... É um belo diferencial... E por que não com a ajuda da Arte e do bom Português?



Se você tiver acesso, verifique o livro "Para entender a Arte", de Robert Cumming,  da Editora Ática. Neste livro, o autor explica como entender alguns quadros famosos na história da arte, levando em conta o contexto histórico e cultural em que os artistas estavam inseridos; além das técnicas e os ideais estéticos de cada período. Vale a pena conferir!

Vou dar um exemplo de uma análise de uma obra de arte! Observe o seguinte quadro:


O nome do quadro é "Rosa Meditativa", do artista Salvador Dalí. 

1. Antes de tudo, observe o quadro atentamente.
2. Faça um mapeamento da obra: faça uma descrição do quadro (como ele é); o que falta ou o que é abundante no quadro?; quais as impressões/sensações que o quadro causa em você? - anote tudo em um papel para não esquecer.
3. Após este primeiro contato, tente refletir o porquê do título da obra a este quadro. Qual seria o objetivo do pintor?
4. Pesquise sobre Salvador Dali. Quem foi ele? Quando viveu? O que acontecia no mundo enquanto ele pintava? Para matar a curiosidade...


Pintor e escultor espanhol

Salvador Dalí

11/05/1904, Figueres, Catalunha, Espanha
23/01/1989, Figueres, Catalunha, Espanha
Da Página 3 Pedagogia & Comunicação
[creditofoto]
Salvador Dalí foi um importante pintor catalão, conhecido pelo seu trabalho surrealista. Os quadros de Dalí chamam a atenção pela incrível combinação de imagens bizarras, como nos sonhos, com excelente qualidade plástica.

Dalí foi influenciado pelos mestres da Renascença e foi um artista com grande talento e imaginação. Era conhecido por fazer coisas extravagantes para chamar a atenção, o que por vezes incomodava os seus críticos.

Salvador Domenec Felip Jacint Dalí Domenech era filho de Salvador Dalí i Cusí (de remota origem árabe), de classe média e figura popular da cidade, e de Felipa Domenech, uma dona-de-casa católica.

Iniciou sua educação artística na Escola de Desenho Municipal. Em 1916, durante férias de verão em Cadaquès, descobriu a pintura impressionista.

Sua primeira exposição pública foi no Teatro Municipal de Figueres, em 1919. Em 1921, sua mãe morreu e, passado um ano, o pai casou-se com Tieta, irmã de Felipa.

Em 1922, Dalí foi viver em Madri, onde estudou na Academia de Artes de San Fernando. Nessa época, ele já chamava a atenção nas ruas como um excêntrico, usando cabelo comprido, longos casacos, um grande laço no pescoço, calças até o joelho e meias altas.

Nos quadros fazia experiências com o cubismo e o dadaísmo. Tornou-se amigo do poeta Federico García Lorca e do cineasta Luis Buñuel.

Dalí foi expulso da Academia de Artes em 1926, depois de declarar que ninguém ali era suficientemente competente para avaliá-lo. Foi nesse mesmo ano que Dalí fez sua primeira viagem a Paris, onde se encontrou com Pablo Picasso.

Nos anos seguintes, realizou uma série de trabalhos influenciados por Picasso e Miró, enquanto ia desenvolvendo seu estilo próprio.

O ano de 1929 foi importante para Dalí. Ele colaborou com Luis Buñuel no curta-metragem "Un Chien Andalou" e conheceu, em agosto, sua musa e futura mulher, Gala Éluard (Elena Ivanovna Diakonova, uma imigrante russa, na época casada com o poeta Paul Éluard).

Ainda em 1929, Dalí fez exposições importantes e juntou-se ao grupo surrealista no bairro parisiense de Montparnasse. Em 1934 Dalí e Gala, que já viviam juntos, casaram-se numa cerimônia civil.

Em 1939 os membros do grupo surrealista expulsaram Dalí por motivos políticos, já que o marxismo era a doutrina preferida no movimento e Dalí se declarava "anarco-monárquico". Dalí respondeu à sua expulsão declarando: "O surrealismo sou eu".

Quando do início da Segunda Guerra, Dalí e Gala mudaram-se para os Estados Unidos, onde viveram durante oito anos. Em 1942, Dalí publicou sua autobiografia "A Vida Secreta de Salvador Dalí".

Na Catalunha Dalí viveu o resto da vida. Em 1960, o pintor começou a trabalhar no Teatro-Museu Gala Salvador Dalí, em Figueres. Foi o projeto de maior vulto de toda a sua carreira e seu principal foco até 1974.

Os últimos anos de vida com Gala foram turbulentos. Ela fazia com que Dalí tomasse antidepressivos e calmantes em altas doses, o que lhe danificaria o sistema nervoso. Gala morreu em 10 de junho de 1982. Dalí ficou profundamente deprimido, perdendo toda a vontade de viver.

Mudou-se de Figueres para um castelo em Pubol. Em 1984, deflagrou um incêndio no seu quarto, em circunstâncias pouco claras. Dalí foi salvo e levado para Figueres, onde um grupo de amigos assegurou que o pintor vivesse confortavelmente seus últimos anos no teatro-museu.

Salvador Dalí morreu de pneumonia e falha cardíaca na cidade onde nasceu e foi sepultado no átrio principal de seu teatro-museu.

As duas maiores coleções de trabalhos de Dalí são o museu Salvador Dalí em Saint Petersbourg, na Flórida, Estados Unidos, e o Teatro-Museu Gala Salvador Dalí, em Figueres, na Catalunha, Espanha.
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5. Ao notificar-se sobre tudo isso, procure o movimento artístico ao qual pertenceu. No caso, o Surrealismo:
O movimento surrealista nasceu no início do século XX, em Paris, fruto das teses de Sigmund Freud, criador da Psicanálise, e do contexto político indefinido que marcou este período, especialmente a década de 20. Ele questionava as crenças culturais então vigentes na Europa, bem como a postura humana, vulnerável frente a uma realidade cada vez mais difícil de compreender e dominar.
Pintura de Vladimir Kush
Pintura de Vladimir Kush
Esta escola artística e literária se insinua no interior dos movimentos de vanguarda modernistas, englobando antigos adeptos do Dadaísmo  – linhagem cultural nascida em Zurique, em 1916, que primava pela irracionalidade, pela censura a toda atitude moderada e era marcada por uma descrença total e um negativismo radical.
A teoria freudiana tem um grande peso na constituição do ideário surrealista, que valoriza acima de tudo o desempenho da esfera do inconsciente no processo da criação. O surrealismo procura expressar a ausência de racionalidade humana e as manifestações do subconsciente. Além dos dadaístas, ele se inspira também na arte metafísica de Giorgio de Chirico.
Os surrealistas deslizam pelas águas mágicas da irrealidade, desprezando a realidade concreta e mergulhando na esfera da absoluta liberdade de expressão, movida pela energia que emana da psique. Eles almejam alcançar justamente o espaço no qual o Homem se libera de toda a repressão exercida pela Razão, escapando assim do controle constante do Ego.
Os adeptos do Surrealismo se valem dos mesmos instrumentos que a Psicanálise, o método da livre associação e a investigação profunda dos impulsos oníricos, embora se esforcem para adaptar este manancial de recursos aos seus próprios fins. Desta forma eles objetivavam retratar o espaço descoberto por Freud no interior da mente humana, o inconsciente, através da abstração ou de imagens simbólicas.
O marco oficial da instituição deste movimento é o lançamento do Manifesto do Surrealismo, em outubro de 1924, por André Breton, que também o subscreveu. Este documento tinha o propósito de criar uma nova expressão artística acessível através do resgate das emoções e do impulso humano.
A persistência da Memória (Salvador Dali - 1931)
A persistência da Memória (Salvador Dali - 1931)
Isto só seria viável a partir do momento em que cada ser conquistasse o conhecimento de si mesmo, para então atingir o momento crítico no qual o interior e o exterior se revelam completamente coerentes diante da percepção humana. Ao mesmo tempo em que o Surrealismo pregava, como os dadaístas, a demolição do corpo social, ele propunha a gestação de uma nova sociedade, sustentada sobre outros alicerces.
O Surrealismo – expressão que foi apresentada inicialmente pelo poeta cubista Guillaume Apolinaire, em 1917 – contava em suas fileiras com nomes famosos como os de Max Ernst, René Magrittee Salvador Dalí, nas artes plásticas; André Breton, no campo da literatura; e Buñuel, no cinema. Eles lançam, em 1929, o Segundo Manifesto Surrealista, publicando ao mesmo tempo o periódico A Revolução Socialista. Na década de 30 esta escola se expande e inspira vários outros movimentos, tanto no continente europeu quanto no americano. No Brasil ela se torna uma das várias vertentes absorvidas pelo Modernismo.
Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Surrealismo
http://www.historiadaarte.com.br/surrealismo.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Dadaísmo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Vanguarda

6. Ufa! Depois de tudo isso (sim, meu caro.... dá um trabalhão danado no começo, mas nada como a prática... )... É hora de "unir as duas pontas" da pesquisa... Rs... 

Sabendo que no Surrealismo "Os surrealistas deslizam pelas águas mágicas da irrealidade, desprezando a realidade concreta e mergulhando na esfera da absoluta liberdade de expressão, movida pela energia que emana da psique. Eles almejam alcançar justamente o espaço no qual o Homem se libera de toda a repressão exercida pela Razão, escapando assim do controle constante do Ego", vemos o porquê de uma rosa solta no céu, sem conexão aparente à realidade.

E qual seria a interpretação correta? Inúmeras são expostas... Há aqueles que afirmam que o quadro expressa a comunicação entre o céu e a terra, outros a sensiblidade e beleza da mulher que é superior, outros a solidão... São diversas as leituras, meus caros, mas o que deve ser exercida é a palavra para expressar a sua visão de mundo, a sua argumentação.

Que tal participar desta viagem e conhecer um pouco mais das obras humanas? Um quadro tão surreal tem razões de ser em um mundo considerado tão racional, mas tão questionável. Qual seria a sua interpretação, então? Convido-o a tentar e entender as possíveis interpretações humanas sobre as diversas realidades vividas e imaginadas!

Boa sorte!
















Uso da Vírgula - Parte III.

* Quando temos ORAÇÕES INTERCALADAS, estas devem vir entre vírgulas. Mas, o que são orações intercaladas???? No mesmo dicionário citado anteriormente, temos o verbo INTERCALAR:

> Intercalar: v. tr. e pron.
Colocar ou colocar-se de permeio; inserir no meio. = ENTREMEAR, INTERPOR



Assim, as orações intercaladas são aquelas que estão no meio de outras orações. Vejamos:

"Acho que estou amando", disse para ela mesma, suspirando.

Temos três orações (1ª oração = estou amando; 2ª oração = disse; 3ª oração = suspirando). Entre as duas orações temos "disse para ela mesma". Como ela está no meio, ela é uma ORAÇÃO INTERCALADA; devendo, então, ficar ENTRE VÍRGULAS.

Muito bem! Agora, estas serão suas dicas valiosas para escrever boas redações com o uso coreto da vírgula! Boa sorte!






Uso da Vírgula - Parte II.

>>>>> Ano novo, postagem nova! Vamos concluir o que postei anteriormente:


* Quando temos sujeitos diferentes, separamos as orações coordenadas (aquelas velhas conhecidas por sua independência) que estão juntas pela conjunção "e". Vamos observar o seguinte exemplo:


Ela caminhava sozinha, e cada pessoa daquela rua fingia não a ver. 


(Quais os sujeitos? Na primeira oração o sujeito é "ela" - quem caminhava sozinha? ela -; na segunda oração, o sujeito é "cada pessoa" - quem fingia estar alegre? Cada pessoa. Então temos duas orações (veja que para cada verbo, temos uma oração) ligadas pela conjunção "e". Elas são consideradas coordenadas porque são independentes - não dependem uma da outra para ter sentido).


* Lembram-se das conjunções adversativas? Opa! O que significaria adversativa? Vamos entender, então... Segundo o dicionário online Priberam da Língua Portuguesa (http://www.priberam.pt/DLPO/), esta é a definição de adversativo:


Adversativo: adj. Que estabelece oposição ou diferença.


Quando falamos em conjunções adversativas, falamos em conjunções que têm a ideia de  
"oposição". Assim, observemos aquelas mais famosas:


Mas

Porém

Contudo

Todavia

Entretanto

No entanto



Agora, que já relembramos quais são elas, vamos ver o uso das mesmas com a nossa amiga VÍRGULA?


> Quando temos mais de uma oração e o "mas" está ligando estas orações,devemos colocar uma vírgula antes desta conjunção adversativa:


Até parecia feliz, mas estava só. (veja as ideias opostas > feliz - só).

> As demais conjunções vêm isoladas entre vírgulas, preferencialmente:

Até parecia feliz, porém, estava só. ( a mesma ideia de oposição).

E é isso aí! Espero que tenha sido uma explicação clara a todos vocês!

Depois de tantas conjunções adversativas, lembrei-me de uma música de uma de nossas grandes cantoras da MPB, Rita Lee... Divirtam-se!


                    Saúde.        

Me cansei de lero-lero

Dá licença, mas eu vou sair do sério!

Quero mais saúde...
Me cansei de escutar opiniões,
De como ter um mundo melhor

Mas ninguém sai de cima, nesse chove-não-molha!

Eu sei que agora eu vou é cuidar mais de mim!

Como vai? Tudo bem

Apesar, contudo, todavia, mas, porém...

As águas vão rolar, não vou chorar!
Se por acaso morrer do coração...
É sinal que amei demais!

 Mas, enquanto estou viva e cheia de graça...

Talvez ainda faça um monte de gente feliz!

Como vai? Tudo bem!

Apesar, contudo, todavia, mas, porém

As águas vão rolar, não vou chorar, não!
Se por acaso morrer do coração...
É sinal que amei demais!

Mas enquanto estou viva e cheia de graça...
Talvez ainda faça um monte de gente feliz!














Feliz Novo Ano!

Aos amantes da Língua Portuguesa: um Novo Ano cheio de realizações!

Uma dose de Drummond faz bem ao coração de todos!


>>>>>> RECEITA DE ANO NOVO

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade.