quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Atenção: é a acentuação chegando!

Dúvidas e dúvidas... Vamos à temida acentuação! Sem pânico e por partes... Rs...




(http://www.possibilidades.com.br/intelig_emocional/img/louro_com_medo.gif)

1. Todo mundo ouve falar que certas paroxítonas são acentuadas. Mas, o que é paroxítona mesmo?...


Paroxítonas são aquelas palavras cujo acento tônico recai na penúltima sílaba. Em outras palavras: a sílaba pronunciada mais forte é a penúltima. Veja:

RE-VÓL-VER; CA-MI-SA; EN-GRA-ÇA-DO.


Resolvido isto, quais as paroxítonas se acentuam? Não são todas. São aquelas terminadas em:


L - I - IS - N - U - US - R - X - PS - Ã - ÃOS - UM - UNS e DITONGOS ORAIS (VOGAL + SEMIVOGAL/ VOGAL + SEMIVOGAL*)


* Semivogal: som de /u/ e /i/

Mas, como decorar todas estas terminações? Vai aí, uma dica para ajudar na hora da prova: decore a seguinte sigla:



UNSRXLUSÃOIÃPS

E aí? Para facilitar mais a sua vida, memorize a seguinte frase sem sentido aparentemente, mas que ganhará sentido ao vc se lembrar que está decorando as terminações das paroxítonas acentuadas:

"UNS ROUXINOL USÃO IÃPS" + ditongos


Eu sei! Não tem sentido algum! E, além do que, não há concordância... Rs... Porém, faça um esforço: "Uns rouxinol usão Iãps" = "Uns rouxinóis usam Iãps". Vamos imaginar, que alguns rouxinóis usam uma espécie de serviço do governo o "iãps"... Rs...  Dessa forma, creio, que vc decorará mais rápido! Tente!

Vejamos exemplos de palavras paroxítonas terminadas com estas letras:


* Renovável.
* Júri.
* Tênis.
* Nêutron.
* Bônus.
* Bíceps.
* Órfãs.
* Sótão.
* Álbuns
* Pôneis.
Viu só? Espero que tenha ajudado-os! Até mais!

Fica, aqui, uma frase para refletirmos neste fim de tarde:

"A palavra é o meu domínio sobre o mundo."
(Clarice Lispector)


(Escritora e jornalista, nascida na Ucrânia,  naturalizada brasileira. Sobre ela, Drummond escreveu:

  "Clarice
veio de um mistério.
partiu para outro.
Ficamos sem saber a
essência do mistério.
Ou o mistério não era essencial,
  era Clarice viajando nele. "

   (Fonte: http://www.vidaslusofonas.pt/clarice_lispector.htm)



A champanha? O champagne? O cal? A cal? E, agora?

A língua portuguesa e seus mistérios... Quantas vezes não nos deparamos com dúvidas corriqueiras como as mencionadas acima? Vamos acabar com isso, já!

1. O correto é "o champanha". Agora, quando for comemorar o Ano Novo, diga: "Traga o champanha, amor!"


(http://www.dicaseideias.com/wp-content/uploads/2010/11/champanhe.jpg)

2. Cal é substantivo masculino ou feminino? E, agora? Preste atenção: "A cal" é substantivo feminino.


(https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwG6GAjhLBwvT5_P5F_hp7wtf-6omjaOqLLe-ulYRWFAG9k8SdG_OdQijZYbaBNkdX7a969hWgsfidfI8dcgfHHdujsOq_sH4R31Hywf04L2aJLI1zRAS-sw9XfQ4U2d5oHj-JruoA588/s1600/seawater+farms+eritrea+salt+works.jpg) 

3. O grama ou a grama? Oh, dúvida cruel... Vamos esclarecer este assunto... Rs...

O grama é um substantivo masculino usado como unidade de medida de massa! Então, por favor, quando for à padaria, peça: "TrezentOs gramas de queijo prato." Ou, terá que levar muita grama para o seu cavalo comer, em seu quintal... Rs...


(http://www.iogurteemcasa.com.br/images/queijos/07.jpg)

A grama, como já mencionado, é aquela verdinha planta que existe em seu quintal... Muito cuidado, então, ao pesar seus produtos, agora! Rs...


(http://us.123rf.com/400wm/400/400/c-foto/c-foto0808/c-foto080800046/3476990.jpg)

4. Está com pena de uma pessoa em determinada situação? Lá vai você, todo solidário, dizer: "Ai, estou com UM dó daquela menina..." Isso mesmo: UM DÓ. Você tem pena de alguém, sente compaixão por ela,  então você tem UM dó e não UMA dó da pessoa.


(https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi42Q6_L4-PiWvW3sgs850hmNGIUutPd0k_sOBWxdLaYDHxujELE8dTQCe-cYxJi_KuiF9kzapmWeVlCy5GU3iF1T07j0GA9Su-rYvTCb4T9xI3KjYHLReoXG-gduiEn0ZIQaHGSDZJh19s/s1600/GATO+DO.jpg) 


5. Você começará aquela dieta e então... Só come alface... E, agora? É o alface ou a alface? Antes de enlouquecer com a gramática e sua dieta, não se esqueça: Você come A alface.


(https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4Jpjtk6qTyHb-Yh-v0t1Z9OcYOBlwJKEXMyDCauYUqr-X6lzuC7ERh36y6KqRzceI6Etk-3nh9OpdCrutjCqKwa-pe1DGaeZyNwWfcXLo8hECYsirkB4Sj0NfWOseAthVyO_YCHfW6m4V/s1600/cabeças+de+alface+foto.jpg) 

E por hoje, é só! Até a próxima!

E para terminar com mto bom humor, terminemos com uma bela e boa canção dos Paralamas do Sucesso! Curtam-na!

Assaltaram A Gramática - Os Paralamas do Sucesso

Assaltaram a Gramática
Os Paralamas do Sucesso
Assaltaram a gramática Ooh!
Assassinaram a lógica Ohh!
Meteram poesia, na bagunça do dia-a-dia
Sequestraram a fonética Ohh!
 Violentaram a métrica Ohh!

 Meteram poesia onde devia e não devia!
Lá vem o poeta com sua coroa de louro
 Bertalha*, agrião, pimentão, louro
 O poeta é a pimenta do planeta (malagueta).

Assaltaram a gramática Ooh!
Assassinaram a lógica Ohh!
Meteram poesia, na bagunça do dia-a-dia
Sequestraram a fonética Ohh!
Violentaram a métrica Ehh!
Meteram poesia
Onde devia e não devia!

Repete novamente. 



(http://www.youtube.com/watch?v=xUbgWEuZyhI)

* Bertalha = Planta herbácea, usada comumente para emagrecimento.






quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Mais dicas sobre a nova ortografia!

*ANTES: 

- Acreano ( de Acre).

- Açoreano ( de Açores).

- Torreano (de Torres).

- Cúmeo ( o pomto mais alto).

- Hástea ( vara de lança, da hasta).

- Résteas. ( 1. Corda feita com ramas ou hastes entrelaçadas./ 2. Uma dessas cordas com alhos ou cebolas enfiadas./ 3. Feixe ténue de luz.)

- Véstea (Casaco de couro, também chamado gibão, usado pelos vaqueiros.)


* AGORA:

- Acriano.

- Açoriano.

- Torriano.

- Cúmio.

- Hástia.

- Réstia.

- Véstia.

* Não se acentuam graficamente os ditongos representados por EI e OI abertos da sílaba tônica das paroxítonas:


- Ideia.

- Epopoeico.

- Assembleia.

- Joia.

- Paranoico.



* Cai o circunfluxeo das formas verbais paroxítonas que contém um E tônico oral fechado em hiato com a terminação EM da 3ª pessoa do plural (eles, elas) do presente do indicativo:

- Creem, deem, descreem, desdeem, leem, preveem, releem, veem.


* Cai o circunflexo de vogais tônicas fechadas Ô em paroxítonsa como: voo, enjoo, coo (de coar).


* Não se usa acento em palavras paroxítonas que, tendo vogal tônica, se escrevem da mesma maneira:


- Para (parar) / Para (preposição).

- Pela (péla - substantivo = cada camada de cortiça nos sobreiros.) / Pela (do verbo pelar) / Pela (por+la).

- Pelo (substantivo) / Pelo (aglutinação da preposição antiga per e do artigo ou pronome lo).

- Pera (substantivo = fruta; antigo para.

- Polo (Esporte que opõe duas equipas de quatro cavaleiros munidos cada um com um taco por meio do qual devem introduzir uma bola de madeira na baliza contrária. / Pólo aquático: esporte praticado em piscina, que opõe duas equipas de sete nadadores que devem introduzir uma bola na baliza contrária. / Gavião de menos de um ano).



E por hoje é só!!!!

Língua  - Caetano Veloso


Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar a criar confusões de prosódia
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior?
E deixe os Portugais morrerem à míngua
"Minha pátria é minha língua"
Fala Mangueira! Fala!

Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?

Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas
E o falso inglês relax dos surfistas
Sejamos imperialistas! Cadê? Sejamos imperialistas!
Vamos na velô da dicção choo-choo de Carmem Miranda
E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate
E - xeque-mate - explique-nos Luanda
Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo
Sejamos o lobo do lobo do homem
Lobo do lobo do lobo do homem
Adoro nomes
Nomes em ã
De coisas como rã e ímã
Ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã
Nomes de nomes
Como Scarlet Moon de Chevalier, Glauco Mattoso e Arrigo Barnabé
e Maria da Fé

Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?

Se você tem uma idéia incrível é melhor fazer uma canção
Está provado que só é possível filosofar em alemão
Blitz quer dizer corisco
Hollywood quer dizer Azevedo
E o Recôncavo, e o Recôncavo, e o Recôncavo meu medo
A língua é minha pátria
E eu não tenho pátria, tenho mátria
E quero frátria
Poesia concreta, prosa caótica
Ótica futura
Samba-rap, chic-left com banana
(- Será que ele está no Pão de Açúcar?
- Tá craude brô
- Você e tu
- Lhe amo
- Qué queu te faço, nego?
- Bote ligeiro!
- Ma'de brinquinho, Ricardo!? Teu tio vai ficar desesperado!
- Ó Tavinho, põe camisola pra dentro, assim mais pareces um espantalho!
- I like to spend some time in Mozambique
- Arigatô, arigatô!)
Nós canto-falamos como quem inveja negros
Que sofrem horrores no Gueto do Harlem
Livros, discos, vídeos à mancheia
E deixa que digam, que pensem, que falem. 



( http://www.youtube.com/watch?v=6yCAguhsnXs)

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Algumas mudanças!

Não se emprega o hífen:

* Água de coco.
* Rés do chão.
[s. m. Pavimento de uma casa ao nível do solo ou da rua; andar térreo.]
* Pé de boi.
* Jardim de infância.
* Café da manhã.

Exceções: água-de-colônia; arco-da-velha; cor-de-rosa; mais-que-perfeito; pé-de-meia; ao deus-dará; à queima-roupa.

* Quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por r ou s, dobram-se estas letras:

- Ultrassom.
- Antirrevolucionário.
- Contrarregra.
- Minissaia.

* Quando o prefixo termina em vogal  e o 2º elemento começa por vogal diferente ou consoante:

- Autoescola.
- Copiloto.
- Extraescolar.
- Antiaéreo.


Mudaram em partes:

* Girassol.
* Mandachuva.
* Pontapé.
* Paraquedas.
* Paraquedista.
* Paraquedismo.
* Madressilva
[s. f. [Botânica] Planta lonicerácea (caprifoliácea) típica, trepadeira, de flores aromáticas, tipo das caprifoliáceas]

Usa-se hífen:

a) Quando o 2º elemento começa por h: anti-histórico; super-homem.
Obs.: Não se usa hífen quando há o prefixo des-, in-, co-, re-; antes de h: desumano; coabitar, reidratar.

b) Quando o prefixo termina na mesma vogal que se inicia o 2º elemento: antiinflacionário; microondas; teleeducação; arquiinimigo (ANTES) = anti-inflacionário; micro-ondas; tele-educação; arqui-inimigo. (AGORA).

Por hoje é só, pessoal! 


(Abaporu, uma das obras mais conhecidas de Tarsila do Amaral, ícone do Modernismo brasileiro. Óleo sobre tela, 1928)

Algumas dicas sobre a nova regra ortográfica: a dupla grafia!

Dupla grafia, válidas tanto em Portugal como no Brasil:

* aspecto (Br) - aspeto (Port).
* cacto (Br) - cato (Port).
* dicção (Br) - dição (Port).
* fato (Br) - facto (Port).
* setor (Br) - sector (Port).
* cetro (Br) - ceptro (Port)
[subst. masc.]
1. Bastão curto que é uma das insígnias do poder soberano.
2. [Figurado] O monarca, a autoridade soberana.
3. Superioridade, proeminência.

* corrupto (Br) - corruto (Port)
* anistia (Br) - amnistia (Port)
* súdito (Br) - súbdito (Port)

Obs.: Mudou em Portugal: ação, acionar, diretor, aflição, aflito, adoção, adotar.

Interessante, não?
Até a próxima!


(Sempre gostei desta imagem que encontro no Google. Se alguém souber a fonte, me avise! Esta imagem é linda!)

Dicas de livros sobre gramática e a nova ortografia.

Ao nos depararmos com a nova ortografia, muitas vezes, nos assustamos! Porém, existem alguns livros que podem nos ajudar muito na hora da escrita e leitura. Vale a pena ler!

1. Nova  Gramática do Português Contemporâneo - Celso Cunha & Lindley Cintra, Editora Lexikon. - obra de referência que aborda desde conceitos gerais de linguagem , língua e discurso; as classes gramaticais; até noções de versificação. É a "bíblia" da galera de Letras e simpatizantes do assunto!

2. A nova ortografia sem mistério do Ensino Fundamental ao Uso Profissional - Paulo Geiger & Renata de Cássia Menezes da Silva, Editora Lexikon - para quem não tem muito tempo e quer um guia rápido, este é recomendado!

3. Tem hífen?, Editora FTD - Guia Prático das palavras que levam ou deixaram de empregar o hífen.

4. Aprender e Praticar - Mauro Ferreira, FTD - livro de gramática não tão "pesado" quanto ao indicado como número 1, com fácil entendimento para o público geral.

5. Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, Editora Global - este, todo revisor e professor deve ter!

Espero que sejam úteis a todos vocês!

Até a próxima!

Palavras - Titãs
Composição: Marcelo Fromer / Sérgio Britto


Palavras não são más
Palavras não são quentes
Palavras são iguais
Sendo diferentes
Palavras não são frias
Palavras não são boas
Os números pra os dias
E os nomes pra as pessoas
Palavra eu preciso
Preciso com urgência
Palavras que se usem
em caso de emergência
Dizer o que se sente
Cumprir uma sentença
Palavras que se diz
Se diz e não se pensa
Palavras não têm cor
Palavras não têm culpa
Palavras de amor
Pra pedir desculpas
Palavras doentias
Páginas rasgadas
Palavras não se curam
Certas ou erradas
Palavras são sombras
As sombras viram jogos
Palavras pra brincar
Brinquedos quebram logo
Palavras pra esquecer
Versos que repito
Palavras pra dizer
De novo o que foi dito
Todas as folhas em branco
Todos os livros fechados
Tudo com todas as letras
Nada de novo debaixo do sol

Saudações a todos!

Olá, amigos!

Após começar um blog sobre a língua inglesa, resolvi escrever sobre a minha outra paixão: a língua portuguesa.

Este blog tem como objetivo ajudar a todos aqueles que se interessam pelo bom e velho português que tantas vezes nos confunde!

Mais uma vez, peço desculpas se houver algum lapso da autora!

Críticas, comentários e mais dicas são muito bem recebidas!

Espero que REALMENTE meu blog possa auxiliá-los durante a viagem cotidiana ao mundo das palavras!

Muito obrigada!

E, vamos finalizar, com um poema de Carlos Drummond de Andrade: Procura da Poesia. Primeiramente, com um a utilização do YouTube, em que o grande ator Paulo Autran recita o poema; e, depois, com uma leitura silenciosa! Adentremos no "reino das plavras" e conquistemos a chave do conhecimento!



Procura da Poesia
Carlos Drummond de Andrade
Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.

Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.

Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.

O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.

Não dramatizes, não invoques,
não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.

Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?

Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.